terça-feira, 13 de dezembro de 2011

É preciso romper a regra do silêncio

Faz algum tempo que venho querendo escrever-lhes esta carta. Na verdade, desde que consegui "desabafar" com minha família e amigos mais próximos. Infelizmente nem sempre é possível falar com todos "ao vivo e a cores", como talvez fosse melhor. Mas, confesso, me agrada a idéia de escrever ao invés de somente falar. Talvez porque tudo fique melhor registrado – e possa ser lido novamente – e os argumentos, as idéias, os sentimentos fiquem melhor explicados e mais esclarecidos. Há muita coisa para dizer e talvez muito ainda fique para outra ocasião. Dentro de mim, neste momento da minha vida, há um turbilhão de coisas se passando e sinto que preciso partilhá-las com minha família, meus amigos, com as pessoas nas quais confio e às quais amo. E , meu Deus, como é bom poder falar! Vejam que para mim o simples fato de poder falar já é uma grande conquista.
Durante toda a minha vida nunca pude ser sincero com relação aos meus sentimentos. Aprendi a calar, fingir, reprimir, esconder aquilo que de mais importante temos na vida, que são os nossos sentimentos relativos ao amor e ao sexo. Melhor dizendo: não aprendi, desaprendi. Cresci convivendo com o medo e com a vergonha: medo e vergonha de ser eu mesmo.
Desde cedo, quando percebi que meus desejos eram diferentes dos desejos da maioria, percebi também a hostilidade das pessoas. Logo aprendi que estava sozinho e que em hipótese alguma alguém poderia ficar sabendo o que se passava comigo. A regra era: "Você precisa mudar. O que você sente é vergonhoso, imoral, sujo, pecaminoso, doentio, contra a natureza". E confesso que tentei me "ajustar". Tentei seguir as regras, ser igual aos outros. Durante o auge de minha juventude lutei contra os meus desejos. Acreditava que realmente algo de errado havia comigo e que eu tinha a obrigação de mudar tudo aquilo. Enquanto meus amigos viviam suas aventuras amorosas, falavam sobre isto para o grupo, experimentavam os primeiros contatos sexuais, eu, do meu lado, me calava, me fechava, sentia dúvidas, sentia medo, me esforçava ao máximo para fazer de conta que nada estava errado e que tudo aquilo me agradava, quando, na verdade, nada daquilo me fazia feliz. Tentei namorar garotas, mas tudo o que ocorria entre eu e elas não era sincero, não me dava nenhum prazer. Tentei não pensar nos homens. Tentei não achá-los bonitos, nem sensuais. Tentei não olhar para eles. Tentei não tê-los em minhas fantasias sexuais. Repeti milhares de vezes a mim mesmo que tudo aquilo era apenas uma "fase", uma recaída , um desvio. Eu dizia: "Não olhe! Não pense! Não deseje! Não, não e não...". Mas toda vez que eu encontrasse um homem que considerasse bonito ou atraente meu instinto falava mais alto. E tudo, exatamente tudo aquilo a que eu me proibia e tentava negar, tudo vinha à tona. E eu me via admirado, excitado, deliciado com a simples presença de uma figura masculina. E quanto mais o tempo foi passando, mais desejo eu sentia.
Hoje, quando olho para trás, para o meu passado, vejo que de certa forma fui uma pessoa privilegiada. Quer dizer, se por um lado a descoberta e a vivência inicial da minha sexualidade foi um grande conflito, um grande pavor, por outro lado sempre tive grandes e boas oportunidades nos outros aspectos de minha vida: uma boa profissão, uma ótima família, grandes amigos, uma fé vivida na prática, dons e talentos que desenvolvi, boas condições materiais e financeiras. Graças a tudo isto sempre estive rodeado de amigos, pessoas que gostavam de mim. Fui, sim, feliz. Sempre fui extrovertido, de bem com o mundo. Sempre tive uma família em quem me apoiar, com quem partilhar, a quem amar. Meu Deus, se não tivesse havido este outro lado em minha vida, não sei onde, ou até onde, eu teria chegado! Não sei quem, ou como, eu seria! É por isso que me sinto privilegiado: porque apesar de todo o meu sofrimento, eu tive onde me apoiar.
Pois bem, mas chegou um momento em que comecei a pensar diferente. Quer dizer, a vida, da forma como estava acontecendo, me obrigou a pensar diferente. Como por instinto, ou pelo simples fato de ver que nada mudava, fui imaginando que talvez nem tudo pudesse estar assim tão errado, que talvez não fosse eu, mas sim os outros que estivessem enganados. E não havia uma só pessoa com quem conversar, em quem confiar um assunto como este. Falar era perigoso. De modo que os livros foram meus confidentes e meus professores. Li muito, pois em mim havia sede de informação. O que estava em jogo era minha intimidade, minha alma, meus desejos, minha felicidade. Este processo foi demorado. A transformação em minhas idéias foi ocorrendo aos poucos. Lentamente fui me "purificando", tirando de dentro de mim as amarras culturais, o preconceito, a autocastração. Comecei a olhar para os homens sem precisar me sentir sujo. Comecei a me permitir desejar. Conquistei a liberdade!
A homossexualidade ainda é um assunto que as pessoas não se permitem sequer mencionar. Vive-se num mundo de faz-de-conta: faz-de-conta que ela não existe, ou se existe jamais vai me atingir. Mas chega um momento na vida das pessoas que não dá mais para fingir ou evitar. Felizmente eu consegui superar a tudo e a todos, inclusive a mim mesmo.
Não peço que tenham pena de mim: não me agrada fazer o papel de vítima. Muito menos gostaria que as pessoas imaginassem que apenas me adequei a uma circunstância ruim ou a um mal inevitável. Não! Não se trata de mal nenhum. Homossexualidade não é doença. Nós homossexuais somos tão normais quanto qualquer heterossexual. Apenas peço que me respeitem como respeitariam qualquer outra pessoa. "Apenas peço que me julguem pelas minhas atitudes e não pelo modo como obtenho um orgasmo" (2).
Sei que no começo possa parecer difícil entender, pois afinal durante todas as nossas vidas ouvimos milhares de vezes todas as pessoas se referirem à homossexualidade de uma forma negativa. Tudo o que aprendemos é que os gays são pessoas nojentas, "bichas assanhadas", um bando de sem-vergonhas que insistem em ir contra as leis da natureza e contra as leis de Deus. Doentes a serem curados. Infiéis a serem convertidos. E como foi somente isto que aprendemos, foi também isto que reproduzimos e é exatamente isto que estamos ensinando aos nossos filhos. Mas o mundo real é muito diferente do mundo das idéias. O preconceito nos torna cegos e ignorantes diante do mundo. E o grande desafio agora é termos a coragem de mudar.
Talvez o que eu mais esteja precisando neste momento é poder perceber que minha família e meus amigos estejam sinceramente querendo mudar, entender. E eu quero ajudar no que for possível. Não há outro caminho que não o da compreensão e informação. O preconceito é algo inadmissível, pois julga as pessoas pelo que elas não são e somente traz sofrimento a todos os envolvidos. Devemos partir do princípio de que os homossexuais têm os mesmos defeitos e as mesmas virtudes que qualquer outra pessoa. Não somos melhor nem pior que ninguém. Nossa preferência sexual é apenas diferente da maioria. Apenas DIFERENTE. E apenas a diferença não pode ser parâmetro para prejulgamentos. Embora nossa cultura insista em condenar a diferença, em desrespeitar aqueles que não são iguais à maioria, nós podemos – e devemos – começar a amar as pessoas pelo respeito e pela consideração que têm para com os demais. Ao invés de dar um soco, porque não estender a mão? Ao invés de condenar, porque não ajudar? Este é o desafio.
De minha parte quero que vocês saibam que estou muito feliz. Como nunca antes estive. Tenho descoberto um mundo à minha frente. Estou plenamente de bem comigo mesmo. Não tenho mais vergonha de mim. Pelo contrário, estou orgulhoso por ter conseguido superar tudo isto, pois sei que muitos jamais conseguem. Estou me sentindo cada vez mais forte, mais decidido, mais convicto. E confesso que às vezes fico revoltado com o que ouço e com o que vejo. Fico indignado com certos comentários e piadinhas sem graça. Fico triste em imaginar quantos homens e mulheres, homossexuais como eu, que vivem sofrendo, que não se permitem amar, que vivem presos e sem nenhuma perspectiva de se libertar. Que talvez irão viver o resto de suas vidas com medo. E tudo isso em troca de absolutamente nada. Somente para satisfazer a hipocrisia daqueles que acham que são os donos da verdade e os únicos com direito a sentir desejo e tesão.
Meu Deus, não estamos fazendo mal a ninguém! Apenas queremos ter o direito de amar. Ora, se duas pessoas se amam – ou se apenas sentem atração –, se vão para a cama de comum acordo, se não estão obrigando ninguém a nada, do que então importa o resto?
Como disse, tenho lido muito e isto tem me ajudado muito. Definitivamente a informação é um grande remédio e por isso gostaria de partilhar um pouco do melhor que tenho encontrado nos livros:
"A pessoa homossexual pode ser vista como um contraste natural à norma heterossexual, uma variação que não obscurece o tema, mas ressoa com ele. Extinguir o homossexualismo é um crime contra a natureza, uma recusa de aceitar a variedade da criação de Deus, uma negação do fato de que o outro não é necessariamente uma ameaça, mas pode, na verdade, dar mais profundidade e contraste ao EU. A prova da existência de Deus está na diversidade e complexidade de Sua criação – criação que não devemos regulamentar, mas contemplar maravilhados." (3);
"Sentir-se orgulhoso e à vontade com sua sexualidade é algo positivo." (3);
"Frequentemente, os homens que se sentem mais seguros em sua masculinidade e sexualidade, e que em geral são os pilares da vida familiar e social responsável, são os menos hostis aos homossexuais." (3);
"Dizer a um homossexual que mantivesse secreta sua identidade equivaleria a dizer a uma mulher heterossexual que ela jamais deveria mencionar seu marido e filhos em público, nem relatar atividades em comum ou contar qualquer história que pudesse indicar seu envolvimento numa relação sexual ou emocional com alguém do sexo oposto. Equivaleria a dizer a um rapaz heterossexual de 18 anos que não mencionasse publicamente sua namorada, nem seus planos para o futuro e suas esperanças de casamento. Em suma, seria um fardo ridículo que qualquer ser humano que se respeite não poderia suportar." (3);
"Durante certas épocas os escravos eram proibidos de se casarem com a pessoa que amavam. Pode-se considerar isto uma injustiça odiosa. Porém, esta injustiça não está ao alcance dos homossexuais, pois, para começar, eles sequer são considerados elegíveis para a instituição do casamento; sempre estiveram, desse ponto de vista particular, abaixo dos escravos. E ainda estão." (3);
"O que é pior: ser brutalizado pela cor da pele, mas ter permissão para desfrutar dos vínculos humanos básicos de afeto e de compromisso que fazem a vida valer a pena ser vivida, ou nascer na igualdade, mas ver-se privado da integridade emocional que pode conduzir à maior felicidade, e ser forçado pela pressão social a internalizar e disfarçar esse trauma?" (3);
"O ódio está envolto no medo e na autoridade. Para ser eficaz psicologicamente ele requer, até certo ponto, o consentimento da vítima. A intolerância não pode ser enfrentada com a verdade, pois os homossexuais insistem em esconder a verdade sobre seus sentimentos. Eles não têm culpa, é claro. Mas têm, em parte, a chave psicológica e emocional de sua própria libertação. Como idéia predominante na sociedade, o preconceito, infelizmente, muitas vezes só é vencido pela persistência, força de vontade e com a coragem dos que se dispõem a enfrentá-lo pessoalmente." (3);
"O ato de reconhecer abertamente a sua homossexualidade é de certa forma um ato de fé, fé na solidez de sua própria identidade e na sinceridade de seu próprio coração." (3);
"Talvez a herança mais duradoura do movimento pelos direitos civis não seja a sua armadura de leis complicadas, mas a lembrança da simples coragem daqueles que se levantaram diante de um grande perigo, afirmando sua dignidade e sua igualdade. O que nós lembramos – o que nunca se apagará da consciência humana – é o brilho da integridade nos olhos daqueles que assumiram a tarefa de mudar o seu mundo, sem esperar nenhuma proteção ou nenhum aplauso. É a coragem que chama a atenção, e é a coragem que muda o mundo. A dor da experiência homossexual exige esse tipo de purificação para ser superada. Nada mais pode substituí-la." (3);
"Agora o homossexual entra na vida pública e diz: "Nós somos as forças armadas; já lutamos nas suas guerras e protegemos os seus lares. Nós somos homens e mulheres de negócios que construíram e sustentaram esta economia tanto para os homossexuais como para os heterossexuais. Nós somos os professores; construímos as universidades e treinamos os estudantes. Criamos a arte, projetamos e construímos os edifícios. Nós somos os líderes cívicos, padres e rabinos, escritores e inventores, empresários, trabalhadores e ídolos esportivos. De vocês não precisamos nada, mas temos muito a lhes dar. Não nos protejam de nada, mas tratem-nos como tratariam qualquer heterossexual." (3);
"A ordem é, na realidade, um eufemismo para a desordem; pode ser mais saudável desfrutar de um problema do que resolvê-lo; há razão no mistério; há beleza nas flores silvestres que crescem aleatoriamente em meio ao nosso trigo"; a diferença é, na realidade, uma afirmação da igualdade. (3);
"Quando o ato é puro bem, punições por qualquer motivo, de qualquer origem e em nome do que quer que seja e em qualquer intensidade, aplicadas por causa dele, são não só maldade, mas pura maldade. O sexo é um prazer legítimo em si mesmo e são tolos os moralistas que defendem que o homem converta o maior prazer que a natureza lhe concedeu numa operação mecânica de fazer crianças." (2)
"Eu lamento que a Igreja tenha uma atitude lastimável (com relação à homossexualidade), porque invade o campo científico, dando como dado que isto é perversão, que traz a maldição de Deus. Qual a função do discurso específico da religião? O que deveria fazer e não faz? É perguntar: "Qual a densidade da relação entre homossexuais, em termos de amizade, de amor, em termos de profunda afetividade?" Porque é um encontro de pessoas, e, se é um encontro de amor, estamos diante de algo misterioso, tão misterioso que o cristianismo reservou esta palavra – Amor – para o verdadeiro nome de Deus. Então eu paro. Prefiro me calar reverentemente, respeitar. Podemos cobrar deles (homossexuais) seriedade, densidade e fidelidade. Ajudar os demais a entender estas pessoas que são normalmente muito penalizadas pela família e pela sociedade. Mas, diante da relação de amor, guardar silêncio. Esta atitude trabalha com o sagrado, com o respeito. Seria uma atitude adequada à natureza da religião, que é de reverência e respeito e ajudaria essas pessoas a encontrar seu caminho." (4);
"O preconceito, na verdade, não tem limites: se você tem preconceito contra o negro, tem contra o judeu, contra o homossexual, o pobre, o feio. O que precisa é que fique clara essa hipocrisia. O movimento dos homossexuais, por exemplo, pode deixar clara essa situação, não permitindo que se misturem situações de doença com posições bastante claras de libido e desejo. Você tem direito, como cidadão, a ter a libido que quiser. Isso tem de ser colocado de uma forma correta, de respeito ao próximo a às suas diferenças. No Brasil as coisas são feitas de cima para baixo, é muito mais ditatorial, é um país que inclusive não tem tradição democrática. Nossa sociedade é uma sociedade que não age com o respeito devido perante o ser humano, a pessoa, o cidadão" (5);
"Algumas pessoas vão sempre além, superam os limites constantemente. Surpreendem. Pessoas descobrem, transformam, criam, revolucionam. Pessoas sonham, transgridem, chocam. Pessoas libertam, prosperam, acolhem. Pessoas fazem revoluções, só porque um dia qualquer, enquanto todos dormiam, elas sonhavam. Pessoas ousam, questionam, não respeitam fronteiras e a todo instante fazem o mundo inteiro girar mais rápido. Pessoas geniais, brilhantes, ousadas, pacientes, velozes, surpreendentes, ternas, irretocáveis, exemplares, insinuantes, irreverentes, contestadoras , todas simplesmente gente." (6)
Além da sensação ruim que inicialmente as pessoas têm com a imagem de dois homens ou duas mulheres juntos (fruto do preconceito), uma das primeiras coisas que se pensa é: "Porque uma pessoa é gay?". E como resposta já tentou-se mil e uma explicações, com diversas teorias que buscam entender o fato: mãe protetora, pai ausente, convívio excessivo com mulheres, trauma de infância, distúrbio psicológico, hormônios desregulados, etc, etc, etc. Mas um fato, relativamente simples, retira a lógica de todos estes argumentos: existem homossexuais em todos os tipos de famílias, em todas as classes sociais e em todos os tempos. Pessoas que passaram por experiências absolutamente iguais às dos homossexuais não se tornaram homossexuais.
Será a homossexualidade algo da natureza de cada pessoa? Trata-se de uma escolha? É um condicionamento social que se apreende com o tempo? Não posso responder pelos outros, mas algumas coisas estão bastante claras para mim. No meu caso, lembro-me de coisas que aconteceram antes de meus 5 anos, idade em que não há qualquer noção de sexualidade. Eram brincadeiras de criança, um toque, um contato, que – nunca me esqueço – eram prazeirosos. Conforme fui crescendo, no colégio, por inúmeras vezes tive amigos pelos quais eu tinha uma afeição muito grande. Poder tocá-los, abraçá-los, olhar para a sua beleza, conversar e confidenciar coisas a eles, estar próximo: tudo isto me proporcionava uma imensa satisfação e alegria. Nunca houve uma menina pela qual eu tivesse sentido as mesmas coisas, cuja presença me agradasse tanto. Eu as tinha como amigas, nunca tive problemas de relacionamento com elas. Mas este relacionamento era apenas de amizade e não havia, dentro da minha alma, na química do meu corpo, a mesma reação profunda que ocorria com os garotos. E ainda nesta época eu não imaginava, não tinha noção – talvez muito vagamente – do que fosse sexualidade. Mas uma coisa tenho certeza: tudo aquilo que eu sentia era muito bom!
Enquanto tudo isso acontecia, ao mesmo tempo eu também percebia que os meus sentimentos não podiam ser correspondidos à altura, ou na mesma intensidade. Afinal desde muito cedo aprendemos que sentimentos verdadeiros de amor e afeição somente podem existir entre um homem e uma mulher. Muitas coisas bem definidas nos são ensinadas: como se comportar, como agir diante do grupo, que tipo de sentimentos são permitidos e quais são proibidos. Mesmo que muitas vezes não nos pareça que todas as regras sejam verdadeiras, mesmo que sintamos que nossos sentimentos não estão de acordo com o que nos "ensinaram", ainda assim nos encontramos tão condicionados que nos submetemos às regras e deixamos de lado experiências boas. A força das normas sociais faz com que tratemos de mudar de rumo, mesmo que nossa vontade fosse de fazer o contrário. Então concluímos uma regra básica: nem sempre tudo o que temos vontade ou tudo o que nos satisfaz é permitido fazer.
E aí – especialmente para nós homossexuais –, quando se inicia nossa puberdade e adolescência, instala-se um grande conflito interno. Para podermos ser aceitos pela sociedade não podemos ser sinceros. A verdade passa a ser sinônimo de perigo. Quando definitivamente percebemos que aqueles melhores sentimentos que tínhamos na infância são o sinal evidente de nossa sexualidade e que essa sexualidade é diferente do que a maioria das pessoas sente e aceita; quando percebemos claramente que estamos totalmente proibidos de agir conforme nossos sentimentos, já estamos igualmente preparados para a arte do fingimento. Engraçado que tentamos convencer a nós mesmos que o que sentimos não é correto, ou que não sentimos nada daquilo. E então, até que não tenhamos coragem de romper com tudo isto, continuamos submersos numa vida dupla, totalmente divergente: de um lado nossos desejos proibidos e de outro a falsa imagem que passamos para os outros. NOS ENSINAM A USAR MÁSCARAS! Quanto constrangimento temos que passar por causa disto! Hoje vejo como é medíocre e absurdo exigir que alguém passe por tanto constrangimento, apenas para manter aparências.
Então, quando penso sobre a origem da homossexualidade, pelo menos no meu caso, NÃO SE TRATA DE UMA ESCOLHA. Aliás, acho improvável que alguém fosse algum dia escolher um caminho tão difícil. Me parece óbvio que, caso se tratasse de uma opção, as pessoas escolheriam aquilo que lhes trouxesse menos sofrimento e que fosse mais aceito socialmente. Afinal, poucas pessoas têm vocação suicida... De modo que a simples existência da homossexualidade – dentro de uma sociedade que reprime e renega de todas as formas este tipo de comportamento – torna-se a prova cabal de que estamos diante não de uma escolha, mas sim de algo que pertence à natureza de cada pessoa. Então fico magoado e até acho engraçado quando as pessoas dizem que fui eu que escolhi ser assim.
A religião também tem sido outro pilar no qual se sustentam muitos daqueles que insistem em condenar a homossexualidade. E um deus, que aprendemos ser o Deus da Bondade, torna-se nosso perseguidor, nosso carrasco, nosso inimigo. Talvez, se pudessem, nos queimariam vivos em fogueiras, tal qual fez a Igreja Católica durante a Idade Média. Ou nos cortariam as mãos, nos prenderiam, nos matariam, tal qual fez o nazismo e assim como fazem ainda algumas teocracias fundamentalistas (e não nos esqueçamos que ainda hoje, no Brasil, seres humanos são assassinados pelo simples fato de serem gays). Nosso maior pecado: amar, desejar. Interessante este ponto de vista religioso, em que Deus aceitaria alguns e excluiria outros! Se fôssemos levar ao pé-da-letra o texto bíblico seríamos todos castos ou, na pior das hipóteses, teríamos apenas relações sexuais com fins estritamente reprodutivos. Sexo e prazer, juntos, sempre seriam um grande pecado. Então, mesmo que fiquem escandalizados, mesmo que considerem isto uma heresia, digo bem alto: Deus me fez assim! Como posso aceitar que Ele me condena se sou obra de Sua própria criação? Hipócritas, diria Jesus. Usam a Bíblia para perpetuar e justificar preconceitos. Definitivamente, não há nenhum argumento religioso que faça com que eu abra mão de meu bem-estar e meu direito ao prazer. Pelo contrário: tudo que aprendi com relação a princípios religiosos me fortalece. Aprendi a amar, respeitar o próximo, viver em fraternidade. Minha forma de amar contém todos esses fundamentos.
Outros dizem que a homossexualidade não é natural, não é normal. Mas o que é ser natural e normal? Acaso o ser humano contentou-se em viver da forma como veio ao mundo? Acaso não evoluímos bastante se nos compararmos ao homem das cavernas? Pois é. Toda criação humana não deixa de ser um desvio à natureza. Nosso principal característica é modificar constantemente a natureza que nos cerca. A ciência e a tecnologia são nada mais do que uma forma de alterar as coisas naturais, visando aumentar o nosso bem-estar. Se com relação aos bens materiais percebemos esta mudança toda, imagine com relação à sexualidade! Então é importante perceber que ser diferente da maioria não significa ser anormal ou antinatural. Com certeza ninguém seria tolo o suficiente para imaginar que os relacionamentos homossexuais colocariam em risco a reprodução da espécie humana. O grande problema atualmente é inverso: excesso de população. E se fôssemos levar isto a sério condenaríamos também os religiosos, os solteiros, os estéreis. Então tudo que pedimos é : "Por favor nos deixem amar!".
Isto tudo também nos leva a uma outra conclusão: a sexualidade humana é muito diferente daquela oficialmente aceita como "natural" e "respeitável". Aliás, existe uma distância enorme entre o que se ensina – e o que se permite – e o sexo efetivamente praticado pelas pessoas. Cada dia percebo mais esta diferença entre o imaginário e o real. E fico pensando qual teria sido o motivo que levou a humanidade – ou a nossa cultura – a distorcer tanto, a esconder tanto, a ignorar tanto o sexo real. Porque foram criadas tantas normas e tantas proibições se elas mais prejudicam do que ajudam? Quem se beneficia disto (se é que alguém se beneficie deste estado de coisas) ? E porque, após tantos avanços em outras áreas do conhecimento humano, continuamos insistindo em não discutir abertamente o tema da sexualidade? Será que temos medo de nossos próprios fantasmas? A homofobia (medo, raiva, nojo de homossexuais) continua forte, fazendo suas vítimas. Realmente isto é uma pena! O silêncio é o pior remédio. Todos saímos perdendo. Se fôssemos mais sinceros uns com os outros, eliminaríamos muito sofrimento.
Pelo que tenho lido e pelo aprendizado que a própria vida tem me dado, tenho visto as mais diversas formas de manifestação da sexualidade: homens e mulheres exclusivamente homossexuais, que só têm vontade de transar com seus iguais; homens que gostam de se vestir como mulheres durante todo o dia (travestis); homens que gostam de se vestir como mulheres apenas de forma caricata, quer dizer, em shows (drag-queens); homens que gostam de transar tanto com homens como com mulheres (bissexuais); outros que também transam com os dois sexos, mas às vezes preferem homens e às vezes preferem mulheres; homens que já foram casados, com filhos, viúvos, e que começaram a sentir atração por outros homens; homens casados e que durante o casamento mantêm relações sexuais frequentes ou esporádicas com outros homens; pessoas que nascem com o corpo "errado", cujos desejos e sentimentos são totalmente diferentes de seu corpo biológico (transexuais); pessoas cuja aparência e comportamento se confundem, parecendo um misto de masculino e feminino (andróginos); pessoas que eram heterossexuais ou homossexuais e que com o passar do tempo viram modificar suas preferências sexuais; pessoas que sentem um imenso prazer em realizar sexo grupal ou outras fantasias. Uns bastante efeminados, outros bastante "machões" ; uns frágeis, outros musculosos; brancos e negros; jovens e velhos; mulheres da socialite e outras pobres e masculinas, ou ainda extremamente femininas; pessoas bonitas e pessoas feias; alguns bastante extrovertidos, alegres, falantes, seguros, convictos; outros calados, tímidos, rancorosos. E por aí vai. Percebam a DIVERSIDADE.
Tudo isso não se fala. As pessoas até sabem, mas se recusam a tocar no assunto. E o que é pior: condenam aquilo que não conhecem. Porque? Porque sempre ouviram falar que pedra é água e se algum dia alguém tenta mostrar-lhes que pedra é pedra e água é água, se recusam a aceitar, não são capazes de perceber o equívoco, ou têm medo do novo.
E as histórias dessas pessoas também são variadas. Há aqueles que irradiam dignidade e autoconfiança, que aprenderam a conviver bem com sua sexualidade, que são respeitados pela família, que não escondem suas preferências sexuais de ninguém. Há aqueles que jamais contarão nada a ninguém, que preferem esconder, apesar, muitas vezes, das evidências. Dizem que para eles não faz diferença nenhuma se a família sabe ou não (eu, pessoalmente, não concordo com esta opinião). Há aqueles que contaram, mas foram expulsos de casa, ou agredidos por algum parente. Talvez a pior situação seja a daqueles que sequer conseguem aceitar ou entender o seu próprio desejo, como uma pessoa, de idade avançada e bissexual, que me disse que apesar de gostar muito de transar com rapazes, acha que isso não é certo. Então imaginem o conflito para uma pessoa que passa a vida tendo vergonha de si mesmo! Não pode haver auto-estima numa situação desta. Quantos jovens, adolescentes, adultos que são problemáticos por causa de conflitos relacionados à sexualidade não resolvida ou mal resolvida! Quando engessamos nossa sexualidade, com certeza, cedo ou tarde, tudo acaba explodindo, ou para fora ou para dentro. E o estrago estará feito.
Então, para o bem da humanidade, deveríamos aprender a respeitar todas as pessoas, independente de suas preferências sexuais. Como é inaceitável saber que existem heterossexuais totalmente sem caráter, ignorantes, que às vezes maltratam suas mulheres e que ainda assim se acham no direito de condenar os homossexuais! Como muito bem disse o cantor: "Não se deixe intimidar pela violência, o poder de sua mente é toda a sua fortaleza. Pouco importa esse aparato bélico universal; toda a força bruta representa nada mais do que um sintoma de fraqueza. O importante é você crer nessa força incrível que existe dentro de você. Meu amigo, meu compadre, meu irmão, escreva a sua história com as suas próprias mãos" (7).
Muitas vezes aqueles que insistem em condenar os outros e não aceitar os que são diferentes, no fundo não conseguiram resolver os seus próprios problemas ou talvez fiquem apavorados por não terem tanta certeza quanto à sua própria sexualidade. O preconceito sexual, como todo e qualquer tipo de preconceito, é desumano e nos tem custado muito caro. Ninguém torna-se gay por estar próximo a outro gay, ou por falar abertamente sobre o assunto. Admitir a existência de homossexuais não significa ser homossexual. Nossas crianças não irão modificar sua personalidade. Pelo contrário, aprenderão a aceitar, respeitar, serão mais livres, serão mais justas. E não sofrerão se descobrirem-se gays.
Calar é covardia e falar torna-se um ato político, na medida em que ajuda a acabar com a discriminação. E veja que é importante deixar claro que não se trata simplesmente de expor minha intimidade aos outros. Ninguém é obrigado a contar aos outros coisas relacionadas à sua privacidade. Porém as coisas relacionadas à minha privacidade, no meu caso, não dizem respeito somente a mim e, na verdade, sequer tive direito a ter uma privacidade. Então preciso falar, pois isto ajudará a que as pessoas me considerem normal, ajudará a que entendam e respeitem o amor entre iguais, de modo que possa chegar o dia em que mesmo um beijo dado publicamente não cause horror e seja encarado tão naturalmente quanto um beijo entre um homem e uma mulher. E aí sim possamos desfrutar de nossa intimidade tranquilamente. A partir do momento em que as pessoas conseguirem encarar o assunto com naturalidade, deixarão de criar problemas desnecessários. O mundo já tem problemas demais. Deveríamos gastar nossa energia tentando resolver problemas verdadeiros. Seríamos muito mais úteis a nós mesmos.
Outra coisa que as pessoas perguntam (ou gostariam de perguntar) é: "O que os homossexuais fazem na cama?". Bem, a primeira coisa a dizer é que eles dormem. E quando estão acordados fazem tudo o que um casal heterossexual faria. Também gostamos de abraço, afago, carinho, toque de pele, beijo, o cheiro do parceiro, sua voz, seu gemido, seu suor. Fazemos sexo oral, fazemos sexo anal (por favor, não se espantem, pois sabemos que o sexo anal não é exclusividade dos homossexuais, sendo que esta forma de contato é prazerosa também para muitos casais heterossexuais). Procuramos conversar muito sobre os desejos de cada um. Saber quais partes do corpo do parceiro são mais sensíveis e que tipo de carinho lhe dá mais prazer. Durante o ato procuramos ir sinalizando nossas sensações, dizendo se está bom, se nem tanto, se é hora de parar ou continuar. Particularmente acho ótimo poder ouvir do meu parceiro o que ele esteja sentindo, poder ajudá-lo e contar com sua ajuda. E veja que faço questão de usar a palavra "parceiro" – talvez pudesse dizer também "companheiro" – porque isto dá idéia de reciprocidade, igualdade. Erroneamente imagina-se que numa relação homossexual um dos parceiros faz o papel de "homem" e o outro faz o papel de "mulher". Se alguns casais preferem este tipo de fantasia, têm todo o direito de agirem assim. Entretanto não é o que a maioria deseja. Ora, se sinto atração física exclusivamente por homens, porque haveria de imaginar que meu parceiro seria uma mulher? Sou um homem e quero me relacionar – de igual para igual – com um outro homem. É isto que me dá prazer. Meu tesão está justamente na masculinidade, tanto minha como de meu parceiro. O mito de que necessariamente deve haver um "ativo" e outro "passivo" é, na realidade, uma tentativa de transpor para a relação homossexual a desigualdade, a imposição, a submissão e o machismo que existem em grande parte das relações heterossexuais. Historicamente a mulher sempre foi subjugada pelo homem e sequer tinha direito ao prazer. Seu corpo se prestava apenas a procriar e satisfazer desejos alheios. O homem no papel de "ativo" e a mulher no papel de "passiva". Triste. Que falta de criatividade! Mas foi isso que aconteceu e continua acontecendo. Até quando o Lobo Mau continuará comendo a Chapeuzinho Vermelho?
Também é totalmente equivocada a idéia que muitas pessoas têm de que os gays somente se interessam por sexo puramente genital ou sem nenhum compromisso. Sabemos que há aqueles que partem para a promiscuidade, mas isto não é exclusividade dos gays. Não nos esqueçamos que a "galinhagem" nos homens héteros é até vista como virtude... E é comum que os pais entreguem seus filhos adolescentes a uma prostituta para que provem sua virilidade de machos. É óbvio que o prazer somente pelo prazer também nos agrada. Quando deixamos de nos reprimir é muito bem possível que possamos ter com alguém uma relação que busque apenas o prazer e a satisfação do momento. Quando percebemos que sexo e pecado não são necessariamente duas faces de uma mesma moeda, temos a liberdade, a felicidade e a delícia de ir para a cama apenas para partilhar prazer. Entretanto também nos apaixonamos! Também somos românticos. Também sofremos quando perdemos um grande amor ou quando não somos correspondidos. Também cultivamos a fidelidade. Somos iguais a todos na nossa forma de amar.
Agora, vamos responder à velha exigência social: precisamos nós (homossexuais) mudar nossos desejos na marra e transar somente com mulheres? Por tudo que foi dito, é óbvio que não. As pessoas deveriam, ao invés de procurar nos deformar, apenas dizer: "Você está se sentindo bem? Você sente prazer? Está com a consciência tranquila? Está feliz? Pois então vá em frente e seja feliz do seu jeito!". Em se tratando de sexo as coisas devem acontecer naturalmente. Não devemos enquadrá-lo, regulamentá-lo, torná-lo chato. Nisto a vida me foi uma escola. Aprendi a seguir os meus mais sinceros desejos e deixar de lado aquele brá-blá-blá moralista e preconceituoso. Para mim está sendo ótimo. Aprendi a voar. Consigo amar com mais profundidade e desprendimento. Sinto-me leve. Estou melhor preparado para encarar os demais problemas que a vida me coloca. Cresci interiormente. Formei um caráter que talvez muitos nunca consigam ter. Adoro poder estar vivo!
Também estou plenamente consciente de que a aceitação social nem sempre ocorre rapidamente. Mas confesso que antes de contar aos outros sobre minha homossexualidade eu imaginava que a reação seria muito pior. Entretanto a maioria está me compreendendo e continuamos tão ou mais amigos quanto antes .
Não há alternativa: ou eu serei aceito do jeito que sou, ou não serei aceito. Antes do mundo me modificar, sou eu que pretendo modificar o mundo. Quero que as pessoas me amem de forma verdadeira, sem máscaras. Se preferirem me odiar por causa de minhas preferências sexuais, que me odeiem. Prefiro isto a continuar com a falsidade. Pelo menos assim saberei com quem posso contar. E tenho certeza de que as pessoas que me derem as costas não me farão falta alguma.
Já houve pessoas que me pediram para calar, manter segredo. Alegaram que eu estava sendo egoísta por supostamente não perceber que faria minha família sofrer e que seria insuportável a idéia de que todos estariam falando pelas costas e fazendo fofocas. Vejam bem: entre enfrentar o problema com coragem (afinal não roubei, não matei, não estuprei, não difamei ninguém) e continuar "levando com a barriga", como se nada estivesse acontecendo, preferem continuar com a farsa, como se EU fosse o problema e não as idéias erradas que as pessoas têm a respeito do assunto. Como se EU fosse o culpado por todo este constrangimento social. Engraçado: se há alguém se expondo e correndo o risco de ser agredido, ou ofendido, ou humilhado ou difamado, este alguém sou EU. E, no entanto, estou plenamente seguro quanto à minha decisão de tornar pública a minha homossexualidade. Como já disse, não tenho medo da reação das pessoas. Meus alicerces estão sólidos. Há convicção em minha alma. Não querem que eu conte porque não querem que eu sofra? Se realmente estiverem preocupados comigo então devem fazer o contrário. Pois meu sofrimento será proporcional ao silêncio e minha alegria será tanto maior quanto forem a verdade e sinceridade a respeito de mim
Quero que todos saibam que, independente do que acontecer daqui para frente, mesmo que eu não seja compreendido, continuo tendo a mesma consideração e o mesmo amor para com vocês. Quero que vocês saibam que continuo sendo exatamente o mesmo que sempre fui, somente mais sincero. E desejo que algum dia, quando finalmente encontrar meu companheiro, e por ele me apaixonar, possa apresentá-lo a todos vocês e partilhar a imensa alegria desse momento. Pois essa é a força que me move e me leva a ser sincero! Não me peçam para mentir! Não me peçam para enganar e mim mesmo! Peçam apenas para que eu nunca perca a esperança e nunca abra mão da minha felicidade.
Para finalizar, transcrevo aqui um trecho da carta de um homossexual que escreveu para sua mãe dizendo: "Tente ver isso tudo pelo ponto de vista do jovem homossexual. Ao adolescente gay não é mostrado nenhum homossexual normal e bem-sucedido. Ele ou ela cresce escutando piadas de bicha, lendo nos jornais sobre homossexuais assassinos (alguém já leu alguma manchete de jornal sobre um maníaco heterossexual?) e vendo na TV e nos filmes o modelo da bicha desmunhecando ( ou da lésbica masculinizada que odeia homens). Ao jovem homossexual não é apresentado nenhum exemplo sadio para servir de modelo. Se eu tivesse moldado minhas relações em muitas que vi retratadas, minha vida seria uma bagunça. Os jovens gays precisam saber que eles podem ser homossexuais e, ao mesmo tempo, serem pessoas de bem. Negar a esses jovens tal modelo seria como negar anticoncepcionais a pessoas com menos de 16 anos "para evitar a gravidez". Eu vivi por trás de uma máscara durante anos; e conheço muitas pessoas que ainda as usam. É UM INFERNO! Imagine um mundo em que você e papai tivessem que esconder não só a sua relação, mas mesmo a possibilidade de uma relação entre vocês. Imagine o que é não poder dar as mãos em público com medo de ser agredido ou ser despejado de seu apartamento. Tente imaginar como seria ter que fingir que vocês mal se conhecem toda vez que seus filhos venham visitá-los, ou que amigos de trabalho estejam por perto, por medo de serem acusados de "atentado ao pudor e à moral" e terminarem perdendo o emprego. Imagine ouvir seus amigos falarem abertamente sobre suas paixões e não poder abrir a boca sobre a sua. Imagine ter que frequentar "bares suspeitos" porque só nesse tipo de local você pode namorar sem causar escândalo. Imagine o que é ouvir dizer que é perigoso deixar crianças desacompanhadas em sua companhia. Imagine estar andando na rua e ouvir estranhos, passando de carro, lhe gritarem palavras obscenas. Imagine o que é ser chantageado, agredido em ruas desertas e até mesmo assassinado. É exatamente assim que é a vida por trás de uma máscara! Foi por isso que eu decidi tirar esta máscara; e é por isso que eu quero ajudar outras pessoas a também tirarem a máscara... Eu não estou pedindo à sociedade para me rotular de "bonzinho". O que quero é que ela pare de me rotular como "diabólico". Há uma grande diferença." (8)
Referências bibliográficas:
(1) Título do texto escrito por Nelson Feitosa, editor da Revista Sui Generis, na seção "Opinião" da Revista Isto É, n. 1447, de 25.06.97
(2) Homossexualidade: uma história. Colin Spencer. Record. 1996
(3) Praticamente normal: uma discussão sobre o homossexualismo. Andrew Sullivan. Cia. das Letras. 1996.
(4) Palestra de Leonardo Boff, transcrita na seção de cartas por um leitor na Revista Sui Generis, n. 26. 1997.
(5) Entrevista com Emanoel Araújo. Revista República, n. 17. 1998
(6) Texto manuscrito. Autor desconhecido.
(7) Como diria Dylan. Música de José Geraldo.
(8) Agora que você já sabe: o que todo pai e toda mãe deveriam saber sobre a homossexualidade. Betty Fairchild e Nancy Hayward. Record. 1989.
Josemir José Dalla Costa (KIKO).
29 anos e feliz.
1998.
Este texto é de domínio público.
Quanto mais pessoas lerem, mas isto me fará feliz.
São sementes que planto na alma das pessoas.
A colheita, faremos juntos, numa grande festa,
para a qual todos, absolutamente todos, estarão convidados.
kikodallacosta@hotmail.com

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