terça-feira, 31 de julho de 2012

Passivo ou ativo, o machismo e a misoginia nossa de cada dia.... (por Otavio Zini)




É muito comum os oprimidos fazerem bandeira por serem oprimidos e alardearem aos quatro ventos “eu não sou preconceituoso!”, mas será mesmo? Os mais diversos preconceitos encontram-se tão mimetizados e enraizados em nós que caso não façamos um bom trabalho de jardinagem, que deve ser feito a cada momento, essas ervas daninhas comprometem toda a beleza que poderia ser o nosso jardim interior.
Começo esse texto assim de forma evasiva para levantar algumas perguntas que me foram muitas vezes feitas e outras que ainda me são feitas - “Você é ativo ou passivo?” - sempre que eu ouvia essa pergunta, a primeira resposta que me vinha a cabeça era: “sou reflexivo” - mas quando dava essa resposta sempre me perguntavam - “Como assim?” - no que de pronto eu respondia: “Quando me fazem essa pergunta eu sento e reflito, o que estou fazendo aqui?” Outra pergunta que sempre me irritou era: “Você não é afeminado, é?” talvez essa me irritasse ainda mais, pois esquecemos que os papéis masculinos e femininos se permeiam em todas as pessoas e a beleza está exatamente na diversidade de expressões passíveis ao ser humano, somos homens e mulheres o tempo inteiro, que problema há nisso? Salvo sobre uma visão machista e misógina, que vê a mulher como inferior, a maravilha da humanidade passa essencialmente na versatilidades de papéis. Atualmente perguntam-nos - “Quem é o homem e quem é a mulher na relação?”, Que pergunta infame, acalmo-me e rebato com a pergunta: “Existe diferença entre ser homem ou mulher? Acredito que na nossa relações somos companheiros de jornada, mas se você vê diferenças adoraria saber quais são elas, quem sabe eu aprendo a ver diferenças que até hoje não vi.” Não entendo o porque das pessoas ficarem desconcertadas e não me apresentarem as diferenças entre o homem e a mulher dentro de uma relação amorosa, ou pelo menos a que elas acreditam que existam.
Historicamente observando os papéis de macho e fêmea nos primevos grupos de humanoides e nos animais atuais, vemos que às fêmeas cabem o papel da caça ou coleta e cuidados da prole, enquanto aos machos o papel de proteção ao grupo, isso em se tratando de grupos pequenos como o dos leões, para isso a seleção natural impõe ao macho a força física mas lhe retira a agilidade, enquanto premia a fêmea com agilidade e astúcia, quando os pequenos grupos de humanoides começaram a se agrupar o próprio número de indivíduos já bastava para a proteção do bando, restringindo a função do macho apenas a de fornecedor de sêmen, talvez por isso em primatas de grupos grandes as decisões caibam as fêmeas e aos machos apenas o papel de batedores quando da mudança de área de coleta.
 No ser humano o encéfalo desenvolvido permite o questionamento e a não aceitação da condição imposta pela natureza, ao menos de forma plácida, então talvez os machos ao se verem destituídos de quase todas as suas funções passaram a implantar a ideia de que eram superiores por sua força física e como a conciliação é uma característica muito mais presente na fêmea, talvez esta para não desagregar o grupo deixou que esta inverdade se propagasse, mas uma mentira dita por muito tempo acaba sendo aceita como verdade, aí nasce o machismo e disso advém a crença que tudo que é, mesmo erroneamente, atribuído ao macho seja superior.
Quanto a pergunta de ser passivo ou ativo, deveríamos primeiro nos perguntar o que é ser passivo? Ou o que é ser ativo? Por definição passivo seria o que se submete, o que deixa que decidam por ele, o que espera placidamente por decisões e apenas as acatas sem discuti-las enquanto uma pessoa ativa seria aquela que toma as rédeas da sua vida em suas mão, que não aceita nada sem antes questiona-las, que não espera as coisas acontecerem mas as faz acontecerem, que toma a iniciativa, mas observemos de onde vem as referências a passividade e a atividade em relação ao sexo, atribui-se normalmente o passivo ao feminino, pois o machismo nosso de cada dia impõe o papel de submissão à mulher, e mesmo no mundo LGBTT a misoginia campeia então o papel feminino é execrado, é tido como inferior, como desprezível, tanto que é muito comum vermos no movimento as frases: “que nada ela é passivona”, ou ainda “olha a cara de passiva dela” reproduzindo sem perceber a misoginia imposta pela sociedade hétero-normativa, envergonha-me a redução que é feita no papel sexual a apenas o coito, reduz-se o papel sexual a quem coloca o falo no orifício, que desprezível,o ato sexual é muito mais que apenas o coito, ele passa pelo olhar, pela carícia, pela sedução, pela palavra, se fossemos apenas analisar o coito seria como diria de forma hilária um grande amigo - “Passiva eu? Eu não - eu dou, eu chupo, eu cheiro, eu vou atrás do bofe, eu dou o bote, eu subo, faço pose de passista rebolando em carro alegórico, enquanto ele ta lá, apenas um corpo estendido na cama, passivo é ele que apenas coloca o pau duro, eu, eu sou a ativa eu tomo a decisão, minha bunda e meu cu é quem me faz poderosa e vitaminada”.

3 comentários:

  1. Perfeito! Só teremos reais mudanças quanto todos os papéis impostos culturalmente, tipo "macho" e "fêmea" forem desconstruídos. Acho que chegou a hora de exigirmos mais, de não nos contentarmos com o menos e nem reproduzirmos o papel do opressor. Obrigado por mais esse belo texto!
    Ricardo Aguieiras
    aguieiras2002@yahoo.com.br

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  2. Amei o seu texto, Otávio! Não sei do que gosto mais: se das nossas ideias que se casam, do rigor inclusive científico dos seus fundamentos ou do delicioso humor ao final.

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  3. O texto em si é ótimo, porem tem a pessoas que não gostam de ter um ''RELATIVIDADE'' isso é muito importante em qualquer casal ambas, estão se amando da mesma forma....

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