domingo, 9 de setembro de 2012

Beijo para que? (By Otavio Zini)


“As pessoas ainda não estão preparadas para ver dois homossexuais se beijando”, ouço muitas vezes essa afirmação, como se devêssemos esperar pela aprovação das pessoas para nosso afeto, como é difícil para as pessoas tentarem se colocar no lugar das outras, um trabalho que deveria ser bem simples mas como é complicado, imaginemos o contrário que virássemos para um casal hétero e disséssemos que eles deveriam manter suas demonstrações de afeto escondidas porque as pessoas não estão acostumadas, será que achariam correto? Quando um casal de sexodiversos (aqueles que fogem a heteronormatividade imposta) anda de mãos dadas ou trocam demonstrações de afeto em público ele nada faz de diferente dos outros casais, e não, eles não estão querendo enfiar goela abaixo seu modo de ser, ao menos não mais que qualquer outro casal, se as pessoas acham estranho, mais ainda deveria ser feito para que a prática passasse a ser vista como comum, sem visibilidade não temos como acabar ou ao menos minorar o preconceito.
Um exemplo claro disso é a participação feminina na política, a tempos não muito distantes a mulher era vista como incapaz para cargos eletivos, foi necessário uma lei que obrigasse os partido a terem um número mínimo de candidatos do sexo feminino para que começassem a serem vistas e acreditadas, será que sem essa visibilidade, a maioria acreditaria na capacidade da mulher? Provavelmente ela ainda estivesse sem voz, submissa aos caprichos de uma sociedade que apenas valoriza o cidadão branco, macho e heterossexual.
Infelizmente a frase que inicia o texto não é a única e não a ouço apenas falada por heterossexuais, o preconceito mesmo entre os sexodiversos campeia, talvez por ouvirmos tanto que não somos “normais”, que devemos nos esconder, sermos invisíveis, acabamos por repetir essas atrocidades, me pergunto quando nos veremos como pessoas normais, tão dignas de direitos quanto os outros.
Ouço pessoa perguntarem: “Como vou explicar a meus filhos, netos ou sobrinhos quando eles presenciarem um casal homossexual se beijando?”, essa realmente me faz rir, para não chorar, eu apenas digo já explicastes a eles quando eles veem um casal heterossexual se beijando que o beijo é apenas uma demonstração de afeto entre duas pessoas que se gostam? E me dizem - “Mas isso eles não perguntam.” - de pronto rebato - “e porque perguntariam da outra situação? Será que não foi você que a colocou como estranha para eles? Será que não colocou como “anormal”? Será que você não os está criando para serem os preconceituosos de amanhã? Por que será que eles não te perguntam porque aquela pessoa é negra (pelo menos não perguntam mais, pois essa já foi uma pergunta comum)? Talvez porque, nesse caso, já tenhas ao menos reduzido seu preconceito e não mais o passe a seus filhos, sobrinhos e netos.
A sexualidade é algo inerente à pessoa, o desejo por essa ou aquela pessoa não é "passado" nem ensinado, por mais que alguns queiram dizer o contrário, vejamos o exemplo que tínhamos a algum tempo atrás quando os casais inter-raciais eram vistos como “anormais”, dizia-se que se as crianças vissem esses casais como coisa normal iriam querer se relacionar com pessoas “diferentes”, sei que hoje uma afirmação dessa, é vista como absurda, mas a relativo pouco tempo, era bem normal, agora pergunto, a visualização destes casais como normais alterou o desejo de alguém? Será que o desejo pode ser modificado? Acredito que a única coisa que pode ser modificado é a aceitação do desejo e não a quem ele é orientado, esta aceitação nos faz plenos já que podemos expressar e viver nossos desejos na sua plenitude sem nos enganarmos para tentar agradar ou ser aceito por quer quer que seja.
Por esses e outros motivos devemos nos mostrar muito mais, vamos beijar muito, andar sempre de mãos dadas, trocando olhares apaixonados quem sabe dessa forma conseguimos diminuir o preconceito nosso de cada dia.

3 comentários:

  1. Interessante como as pessoas realmente não percebem os meandros dos preconceitos e as isonomias que precisam serem criadas para dar suporte aos segmentos preconceitualizados. Isso é triste! Partem de uma pretensa "naturalidade" à tudo o que é heterossexual e o que foge disso gera espanto... Não saímos dos armários apenas uma vez na vida, mas até os bem resolvidos e resolvidas, assumid@s são obrigad@s a saírem do armário todos os dias , todo dia a gente se depara com a perguntinha cretina: "você tem namorada?" ou seja, olham para mim, veem um homem e acham que homem só pode ter namorada, mulher, do sexo feminino... risos... imagine se eu for falar para essa gente que esses conceitos caíram por terra, já, falar da Teoria Queer, kkkkkk.... o bullying para um/uma homossexual não acaba nunca! Dura a vida toda e até depois da morte sempre vão querer satisfações sobre nossa sexualidade!
    Excelente texto!
    Beijos,
    Ricardo Aguieiras
    aguieiras2002@yahoo.com.br

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    1. um dia ainda escrevo como vc meu grande mestre, te adoro!!!
      minha mais profunda admiração por você e por sua, nossa luta diária contra os preconceitos do dia a dia

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