“As pessoas ainda não estão preparadas para ver dois homossexuais
se beijando”, ouço muitas vezes essa afirmação, como se
devêssemos esperar pela aprovação das pessoas para nosso afeto,
como é difícil para as pessoas tentarem se colocar no lugar das outras,
um trabalho que deveria ser bem simples mas como é complicado,
imaginemos o contrário que virássemos para um casal hétero e
disséssemos que eles deveriam manter suas demonstrações de afeto
escondidas porque as pessoas não estão acostumadas, será que
achariam correto? Quando um casal de sexodiversos (aqueles que fogem
a heteronormatividade imposta) anda de mãos dadas ou trocam
demonstrações de afeto em público ele nada faz de diferente dos
outros casais, e não, eles não estão querendo enfiar goela abaixo
seu modo de ser, ao menos não mais que qualquer outro casal, se as
pessoas acham estranho, mais ainda deveria ser feito para que a
prática passasse a ser vista como comum, sem visibilidade não temos
como acabar ou ao menos minorar o preconceito.
Um exemplo claro disso é a participação feminina na política, a
tempos não muito distantes a mulher era vista como incapaz para
cargos eletivos, foi necessário uma lei que obrigasse os partido a
terem um número mínimo de candidatos do sexo feminino para que começassem a serem vistas e acreditadas, será que sem essa
visibilidade, a maioria acreditaria na capacidade da mulher?
Provavelmente ela ainda estivesse sem voz, submissa aos caprichos de
uma sociedade que apenas valoriza o cidadão branco, macho e
heterossexual.
Infelizmente a frase que inicia o texto não é a única e não a
ouço apenas falada por heterossexuais, o preconceito mesmo entre os
sexodiversos campeia, talvez por ouvirmos tanto que não somos
“normais”, que devemos nos esconder, sermos invisíveis, acabamos
por repetir essas atrocidades, me pergunto quando nos veremos como
pessoas normais, tão dignas de direitos quanto os outros.
Ouço pessoa perguntarem: “Como vou explicar a meus filhos, netos
ou sobrinhos quando eles presenciarem um casal homossexual se
beijando?”, essa realmente me faz rir, para não chorar, eu apenas
digo já explicastes a eles quando eles veem um casal heterossexual
se beijando que o beijo é apenas uma demonstração de afeto entre
duas pessoas que se gostam? E me dizem - “Mas isso eles não
perguntam.” - de pronto rebato - “e porque perguntariam da outra
situação? Será que não foi você que a colocou como estranha para
eles? Será que não colocou como “anormal”? Será que você não
os está criando para serem os preconceituosos de amanhã? Por que
será que eles não te perguntam porque aquela pessoa é negra (pelo
menos não perguntam mais, pois essa já foi uma pergunta comum)?
Talvez porque, nesse caso, já tenhas ao menos reduzido seu preconceito
e não mais o passe a seus filhos, sobrinhos e netos.
A sexualidade é algo inerente à pessoa, o desejo por essa ou aquela pessoa
não é "passado" nem ensinado, por mais que alguns queiram dizer o
contrário, vejamos o exemplo que tínhamos a algum tempo atrás
quando os casais inter-raciais eram vistos como “anormais”,
dizia-se que se as crianças vissem esses casais como coisa normal
iriam querer se relacionar com pessoas “diferentes”, sei que hoje
uma afirmação dessa, é vista como absurda, mas a relativo pouco
tempo, era bem normal, agora pergunto, a visualização destes casais
como normais alterou o desejo de alguém? Será que o desejo pode ser
modificado? Acredito que a única coisa que pode ser modificado é a
aceitação do desejo e não a quem ele é orientado, esta aceitação
nos faz plenos já que podemos expressar e viver nossos desejos na sua plenitude
sem nos enganarmos para tentar agradar ou ser aceito por quer quer que seja.
Por esses e outros motivos devemos nos mostrar muito mais, vamos
beijar muito, andar sempre de mãos dadas, trocando olhares
apaixonados quem sabe dessa forma conseguimos diminuir o preconceito
nosso de cada dia.
Interessante como as pessoas realmente não percebem os meandros dos preconceitos e as isonomias que precisam serem criadas para dar suporte aos segmentos preconceitualizados. Isso é triste! Partem de uma pretensa "naturalidade" à tudo o que é heterossexual e o que foge disso gera espanto... Não saímos dos armários apenas uma vez na vida, mas até os bem resolvidos e resolvidas, assumid@s são obrigad@s a saírem do armário todos os dias , todo dia a gente se depara com a perguntinha cretina: "você tem namorada?" ou seja, olham para mim, veem um homem e acham que homem só pode ter namorada, mulher, do sexo feminino... risos... imagine se eu for falar para essa gente que esses conceitos caíram por terra, já, falar da Teoria Queer, kkkkkk.... o bullying para um/uma homossexual não acaba nunca! Dura a vida toda e até depois da morte sempre vão querer satisfações sobre nossa sexualidade!
ResponderExcluirExcelente texto!
Beijos,
Ricardo Aguieiras
aguieiras2002@yahoo.com.br
um dia ainda escrevo como vc meu grande mestre, te adoro!!!
Excluirminha mais profunda admiração por você e por sua, nossa luta diária contra os preconceitos do dia a dia
wise words.
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